Texto Nonsense - Seu Abel

sexta-feira, 7 de novembro de 2008, by Fabricio von

-Caramba Edu, eu nâo agüento mais o Seu Abel!
-Ora... por que?
-Porque todo santo dia na hora do almoço esse velho senta do meu lado e fica puxando catarro enquanto come! Eu mal consigo engolir minha comida!
-Mas tu é burro hein, Pedro! Por que tu não muda de mesa? O refeitório é gigante!
-Eu já tentei! Acontece que ele vem atrás de mim, ele diz que eu sou o melhor funcionário da firma.
-Sei lá então... diz a verdade pra ele!
-Aham, daí ele me demite!
-Ih é, ele não gosta que as pessoas fiquem falando sobre seus hábitos...
-Cara, é nojento! O seu Abel começa a falar sobre a situação da empresa, enfia o garfo no macarrão, dá aquela puxada de catarro na garganta e engole junto com a comida... isso me embrulha o estômago!
-Não sei o que faria se fosse comigo...
-Eu estou com uma idéia pra eu conseguir almoçar, mas num sei não...
-E qual é?
-Bem... comer no banheiro do refeitório.
-Quê?! Aquilo é pior que esgoto a céu aberto!
-Tá, mas deve ser menos pior do que imaginar a catarreira do seu Abel descendo na minha garganta...
-É, isso é... bom, boa sorte pra você.
E Pedro pôs-se a trabalhar, sempre olhando para o relógio, esperando pela fatídica hora do almoço. Soa o alarme: meio-dia. Como de costume, seu Abel passa no escritório de Pedro, puxando o catarro:
-Rrrrrrrrrrrrr... vamos almoçar, Pedro!
Pedro respira fundo e balança a cabeça positivamente. Chegam no refeitório e servem-se. Pedro encontra uma mesa com apenas uma cadeira vazia e senta-se, com esperanças de pela primeira vez em uma semana almoçar decentemente. Mas seu Abel grita lá de longe:
-Pedro! Pedro! Rrrrrrrrrrrrr... Senta aqui, vamos discutir alguns tópicos da reunião de amanhã!
Desolado, o pobre coitado levanta-se e anda vagarosamente na direção de Abel, engolindo toda a comida que consegue durante o percurso, já que este poderia ser o pouco que comeria do almoço. Pedro senta-se e olha para seu prato, que exalava um cheiro delicioso. Pegou o garfo, a faca, cortou um pedaço da suculenta lasanha de frango e, na hora que iria contemplar seu paladar enfiando a lasanha na boca, seu Abel dá aquela puxada de catarro, que faz Pedro tremer e deixar a lasanha cair de volta em seu prato.
Rindo, Seu Abel pergunta se Pedro estava com mal de Parkinson. O agora enojado Pedro dá um sorriso forçado, e disse que precisava ir ao banheiro. Levantou-se, pegou seu prato e pediu licença. Prontamente, Seu Abel exclamou:
-Ei, deixe o prato aqui!
Nervoso, Pedro responde:
-Bem... é qué... o senhor sabe...
-Desembucha, rapaz!
-Ora, pode pousar uma mosca no meu prato! É melhor eu o levar comigo!
-Se uma mosca pousar no seu prato, eu a demito da empresa! - respondeu o velho gargalhando, e mais uma vez puxando o catarro que provém de suas entranhas.
Abatido por seu plano não ter dado certo, Pedro vai ao banheiro, dá uma mijada pra relaxar e volta. E quando volta, ele vê uma cena grotesca: Seu Abel tossindo com a boca aberta, bem em frente ao prato de Pedro, que vira-se e começa a chorar, incitado pela raiva e pela fome avassaladora que tomava conta de sua carcaça. Neste momento, Edu vai de encontro a Pedro e pergunta porque estava chorando. Gritando, Pedro responde:
-É o catarro, a culpa é toda do velho catarrento! Eu morrendo de fome e aquele maldito tossindo na minha lasanha!
-Shhhhh! Fala baixo, Pedro! Se ele escutar isso você tá no olho da rua!
-Quem sabe na rua talvez eu conseguisse comer algo...
Novamente, Seu Abel grita:
-Rrrrrrrrrrr... Pedro! Ô Pedro! Sua comida vai esfriar, vem comer!
Edu encaminha seu companheiro - enojado e cabisbaixo - até a mesa de Seu Abel, que nota que Pedro estava um pouco estranho.
-Rrrrrrrrr... Pedro, o que houve? Você mal tocou na sua comida. E essa lasanha parece tão apetitosa!
-Parece mesmo...
-E por que não a come?
-Bom, eu vou falar porque! A verdade é que...
E nisto, toca o sinal do refeitório, o horário de almoço havia acabado. Seu Abel pergunta:
-Então Pedro, por que?
Tomando ciência de que podia ter jogado seu emprego fora, Pedro mente:
-É que eu estou sem fome hoje...
-Ah, então é isso! Menos mal... rrrrrrrrrrrrr!
Levantaram-se. Neste exato momento, o estômago de Pedro parecia ser esmagado por um torno, a dor era forte demais para ele agüentar mais 4 horas de serviço sem comida na pança.
Nisso, uma idéia genial veio à cabeça de Pedro: comer na cantina do lado de fora da empresa! Era a solução (ainda que temporária) para seu problema.
-Seu Abel, me dá licença um minutinho que eu vou lá fora para...
-Não, não! Já estamos atrasados para nossa reunião, esqueceu?
Perfeito. Agora, além de estar faminto, Pedro teria que se esforçar para pensar sobre um projeto, e não na comida quentinha e apetitosa que preencheria seu estômago.
Executivos sentaram-se em volta da grande mesa de reuniões. Passou-se uma hora de reunião, mas para Pedro pareciam dias de turismo na Nigéria. Falava-se de juros, tarifas alfandegárias, marketing social, logística e lucros. Mas Pedro estava abstraído do grupo: só conseguia pensar em comida. Por diversas vezes, enfiava as mãos nos bolsos de seu terno na esperança de encontrar um chocolate ou qualquer outra coisa que pudesse mastigar, sem contar nas vezes que pedia para ir ao banheiro e Seu Abel o barrava, dizendo tratar-se da "reunião mais importante da história da companhia". Pedro só pensava em chutar o balde, mandar seu Abel e sua companhia tomarem na rosca e ir correndo pra cantina a fim de comer qualquer porcaria que calasse seu irrequieto sistema digestivo. E para melhorar ainda mais a situação, Abel, que estava do lado de Pedro, não parava de expectorar e tossir, ainda que dessa vez colocasse a mão na frente.
Mas um milagre aconteceu: ao fundo, uma porta se abre. Era Dona Mazinha, a cozinheira, que trazia em suas mãos uma bandeja cheia de amendoin japônes. Os olhos de Pedro encheram-se de lágrimas, finalmente seu martírio acabaria!
E a bandeja foi passando de mão em mão. Pedro seria o último, mas isso pouco importava, ele finalmente engoliria alguma coisa além de saliva. Mas quando estavam faltando 3 pessoas para a vez de Pedro, Seu Abel tem um acesso de tosse e acaba escarrando na mão. Discretamente, ele passa a mão suja na calça para limpar um pouco. Pedro toma coragem e olha para o lado. Era tudo o que ele não precisava ver: o terno cinza de seu patrão, com uma gosma esverdeada e cheia de pus fincada na calça. Pedro queria, além de vomitar, que seu Abel não pegasse os amendoins, ou que no máximo pegasse com a outra mão.
Mas o destino é cruel: o velho catarrento enfiou a mão suja na bandeja, e começou a comer. Comia, babava, limpava com a mão, enfiava a mão na bandeja de novo e por aí ia. Pedro olhava aquilo e parecia não acreditar que Deus fazia de tudo para que o suco gástrico deteriorasse a parede de seu minguado e desocupado estômago. Finalmente a bandeja chega até Pedro, quase vazia, com poucos amendoins, que brilhavam devido à baba gentilmente cedida por Seu Abel, o velho catarrento.
-Rrrrrrr... come Pedro. Esse amendoin é muito gostoso! Cof Cof...
Pedro sorriu ironicamente para Seu Abel.
-Rrrrrrrrrr... mas boa mesmo estava aquela lasanha de frango que você não comeu. Ô Pedro, deu mole rapaz! Tava uma delícia.
Puto da vida, Pedro segurou-se na cadeira para não dar um murro na cabeça do velho babão. Novamente, sorriu...
Mais meia hora, e a reunião estava encerrada. Pedro levantou-se tonto de fome, e foi cambaleando até a porta. E mais uma vez, veio o Seu Abel atrapalhar a vida do esfomeado Pedro:
-Rrrrrrrr... Pedro! Dá pra você me dar uma carona até minha casa?
-Sinto muito, Seu Abel. Eu não tenho carro! Agora me dá licença que...
-Não, você vai no meu carro! Eu não posso dirigir, tou com problema no braço! Anda, vamos lá.
Foi a gota d'água. Mas Pedro resolveu aceitar quietinho. Chegando na garagem do prédio, o faminto avista o BMW preto de Seu Abel. Entra, abre a porta para seu querido chefinho e arranca. No meio do caminho, o velho abre o porta luva e pega um saquinho. Abre-o, e põe se a escarrar ali dentro. Após dezenas de escarradas, Pedro pergunta, sorrindo:
-Tá gostoso esse catarinho aí?
-Como?
-O Senhor deve gostar muito dessa catarreira...
-Ei, olhe como fala comigo!
-Eu falo do jeito que eu quiser, seu velho catarrento!
-Cuidado com o que diz, Pedro! Eu posso demití-lo!
A fúria toma conta do corpo de Pedro, que pisa no acelerador e rapidamente chega aos 140km/h.
-Seu irresponsável, nós vamos bater! Dirija devagar!
-Dane-se, mais algumas horas sem comida e eu iria morrer do mesmo jeito!
-Você está pirando! Você não comeu porque não quis!
-Ah é? Então tá...
Pedro freia bruscamente e pára o carro no meio da rua. Vira-se para o velho, tira o saquinho de catarro, puxa um catarro das profundezas do nariz, escarra no saquinho e diz:
-Abre a boca.
-O que?!
Violentamente, Pedro abre a boca do velho e o faz engolir o catarro. O velho estrebucha e vomita no banco do seu BMW.
-Gostou, velho? Gostou da sensação? É isso o que eu sinto sempre que vou comer perto de você!
-Pedro... você está demitido!
-E você morto...
Pedro acelera em direção a um abismo, abre a porta, rola no chão e vê Seu Abel e o BMW caindo no precipício, explodindo em seguida. Transformado, física e psicologicamente, ele rí. E após alguns minutos deitado no chão da estrada, ele levanta-se e pára numa birosca, onde come um prato feito de arroz, feijão, salada e bife, um verdadeiro orgasmo estomacal. Após satisfazer-se, foi pra casa dormir. E só no dia seguinte teve noção de que havia matado uma pessoa catarrenta porém inocente. E não era uma pessoa qualquer, era o presidente da empresa. Pedro estava com medo, mas mesmo assim foi até a firma.
E lá chegando, ele avista uma multidão de pessoas de luto. Tentando esconder qualquer evidência que pudesse incriminá-lo, Pedro finge lamentar a morte de Seu Abel, o velho catarrento. E após alguns dias de fingimento, Edu encosta Pedro na parede e pergunta porque estava chorando, enquanto na verdade deveria estar sorrindo. Pedro pensou que Edu descobrira o crime, e começou a tremer. Mas antes mesmo de balbuciar qualquer coisa para defender-se, seu amigo fala:
-Parabéns, presidente!
-Ahm?
-Não se faça de bobo, Pedro! O Seu Abel deixou um testamento, no qual dizia que você seria o novo presidente da empresa! E como o velho empacotou...
Pedro ficou muito feliz, pois além de abocanhar o cargo máximo na hierarquia da empresa, poderia almoçar tranqüilamente. Mas como o destino é cruel e eu adoro escrever histórias de humor negro, Pedro morreu quatro meses depois, engasgado com seu próprio catarro enquanto dormia.


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9 mongolices:

Anônimo disse...

meu what the fuck!!! kkkkkkkkkkkkkk muito bom

Anônimo disse...

uhsahuasuhsa
ri mto
coitado dele
se ferro
adoro essas historias,alegram meu dia!

Anônimo disse...

Pindamonhangaba! Estou rindo até agora...

Zanfa disse...

EAHUEAhueaHUEAhueaHae

Rrrrrrrrrrrrrr, coitado do Pedro!

Anônimo disse...

PARABENS!
cara... o texto é interessante, leve, fluido, enorme e você tem vontade de ler ele todo. Alem de divertido ele faz a pessoa se transportar para o cenario criado, reconhcer personagens e variar com a tensão narrativa. Parabens, mas gostaria de acrescentar que do meio para o fim aparentemente outra pessoa escreve o texto, ele perde todo o brilhantismo e profunidade, fica besta, previsivel e de dar raiva pelo mal aproveitamento da historia lida por tanto tempo... VC É UM MONGOL!

Fabricio von disse...

É, então do meio para o fim eu devo ter escrito isso meio bêbado. LOL

Anônimo disse...

que falta do que fazer, o maluco que escreveu devia estar muito puto com o chefe, fdhodifohiosi

Anônimo disse...

IAHAuHaiuHAiuHaiuHaiHaiHAIU LoL [2]

Y.@.$.AAA. =D disse...

u9hsauhshhashashaushusahshushaushushaushausha