Texto Nonsense - O Bolinho

domingo, 19 de outubro de 2008, by Fabricio von

O martírio começou ao debiscar aquele simples bolinho. Ele poderia ter sido o bife de ontem, ou até mesmo a carne moída de amanhã, mas não, eu estava pré-destinado a consumí-lo. A primeira mordida após dez horas de abstinência fora um orgasmo estomacal, e nem mesmo o gosto amargo de óleo reutilizado pelo indecoroso comerciante me fez refletir sobre a qualidade duvidosa do produto em questão. Dei a segunda, a terceira, dei 'N' mordidas. Sem dúvida era o pior bolinho de carne e ovo que já havia comido, mas, como todos sabem, a fome é negra.

Inadequadamente porém alimentado, mandei o dono da birosca pendurar na conta, e dirigi-me até meu local de labuta, um prédio em construção, localizado em uma área nobre da metrópole. O sinal soou, e pus-me a trabalhar. E quanto mais eu trabalhava, mais eu me sentia indisposto, o suor minava da minha enegrecida cútis. Continuei virando massa, até que uma hora minha barriga estremeceu. Fiquei assustado com aquilo, e então ela abalou-se novamente. Imediatamente concluí que o bolinho que se alojou no meu estômago não havia me feito muito bem. Afastei-me de meus colegas de trabalho e, muito discretamente, tentei soltar um peidinho pra dar aquela aliviada na barriga. Foi aí que a casa veio abaixo. A casa não, a merda. Caguei-me, e caguei-me fedido. Morrendo de medo de algum de meus comparsas descobrirem o que acabara de acontecer com minha pessoa, saí correndo em direção ao banheiro da obra, um buraco no chão envolto em uma cortina de box. Arreei as calças e pude analisar o estrago. Minha cueca branca agora era marrom, e talvez nunca mais voltasse a ter sua cor original. Desesperado e sem papel higiênico no local, tive que usar a imaginação. Finalmente limpei-me e, apesar de ter ficado com o traseiro cinza, agradeci a Deus por ter colocado aquele saco de cimento na minha direção. Aliviado, voltei ao trabalho.

O tempo passou, minha indisposição estomacal já era coisa do passado, mas algo estava me incomodando. Ao sair do emprego, meu ânus começou a se comportar de maneira incomum, parecia me prender. Chegando em casa, e doido para extinguir o cheiro de ovo podre que alojou-se em meu corpo, tirei minha roupa. Daí pude ver o estrago que havia feito a mim mesmo: o cimento juntou-se à diarréia, formando uma crosta dura, marrom e fedida. Peguei sabonete e esfreguei-o em meu fiofó, na esperança de soltar o reboco. Nada. Desesperado, lambuzei meu esfíncter com óleo de cozinha e esfreguei com uma escova de dentes velha. Mas meus esforços foram em vão, a crosta ali permanecia, firme feito rocha. Não encontrei outra solução, senão telefonar para meu primo, que era médico. Expliquei minha situação, e ele parecia não acreditar em uma história tão bizarra.

Quando ele chegou e viu meu estado, ele ficou chocado. Imediatamente fui encaminhado a um hospital para uma bateria de exames. O resultado dos testes não era nada animador: o cimento misturou-se a substâncias provenientes do bolinho e causou-me uma reação alérgica que, se não fosse tratada a tempo, poderia tornar-se uma infecção. Primeiramente, os médicos deveriam tentar remover a crosta. E ela não poderia ser retirada a força, já que o ânus é uma região muito sensível e cheia de vasos sanguíneos. A radiação era minha única esperança. Fui submetido a várias seções radioterápicas, que infelizmente não surtiram efeito. Eu estava inconformado, e convencido de que iria morrer, não havia mais o que ser feito para poupar minha vida.
Mas um médico revolucionário, hoje um grande amigo meu, resolveu me ajudar. Ele tinha uma solução definitiva, porém radical: a amputação de minha bunda. Aquilo parecia inconcebível, um sujeito andando por aí, sem as suas nádegas, mas era ou isso, ou a morte. Optei por fazer a operação, e hoje estou muito bem, apesar de não poder sentar-me em lugar algum. Mas confesso, eu sinto muito a falta da minha querida e molenga bunda. E pensar que a perdi por causa de um bolinho... a vida é cruel, e o bolinho estragado.


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3 mongolices:

Anônimo disse...

já aconteceu comigo, mas foi num banheiro
.. e eu tive q usar o papel já usado..

Kainã Lacerda disse...

Papel Já usado ?! Que delícia.

mata cupins disse...

imaginou o perfume que isa lava. credo