O martírio começou ao debiscar aquele simples bolinho. Ele poderia ter
sido o bife de ontem, ou até mesmo a carne moída de amanhã, mas não, eu
estava pré-destinado a consumí-lo. A primeira mordida após dez horas de
abstinência fora um orgasmo estomacal, e nem mesmo o gosto amargo de
óleo reutilizado pelo indecoroso comerciante me fez refletir sobre a
qualidade duvidosa do produto em questão. Dei a segunda, a terceira,
dei 'N' mordidas. Sem dúvida era o pior bolinho de carne e ovo que já
havia comido, mas, como todos sabem, a fome é negra.
Inadequadamente porém alimentado, mandei o dono da birosca pendurar
na conta, e dirigi-me até meu local de labuta, um prédio em construção,
localizado em uma área nobre da metrópole. O sinal soou, e pus-me a
trabalhar. E quanto mais eu trabalhava, mais eu me sentia indisposto, o
suor minava da minha enegrecida cútis. Continuei virando massa, até que
uma hora minha barriga estremeceu. Fiquei assustado com aquilo, e então
ela abalou-se novamente. Imediatamente concluí que o bolinho que se
alojou no meu estômago não havia me feito muito bem. Afastei-me de meus
colegas de trabalho e, muito discretamente, tentei soltar um peidinho
pra dar aquela aliviada na barriga. Foi aí que a casa veio abaixo. A
casa não, a merda. Caguei-me, e caguei-me fedido. Morrendo de medo de
algum de meus comparsas descobrirem o que acabara de acontecer com
minha pessoa, saí correndo em direção ao banheiro da obra, um buraco no
chão envolto em uma cortina de box. Arreei as calças e pude analisar o
estrago. Minha cueca branca agora era marrom, e talvez nunca mais
voltasse a ter sua cor original. Desesperado e sem papel higiênico no
local, tive que usar a imaginação. Finalmente limpei-me e, apesar de
ter ficado com o traseiro cinza, agradeci a Deus por ter colocado
aquele saco de cimento na minha direção. Aliviado, voltei ao trabalho.
O tempo passou, minha indisposição estomacal já era coisa do
passado, mas algo estava me incomodando. Ao sair do emprego, meu ânus
começou a se comportar de maneira incomum, parecia me prender. Chegando
em casa, e doido para extinguir o cheiro de ovo podre que alojou-se em
meu corpo, tirei minha roupa. Daí pude ver o estrago que havia feito a
mim mesmo: o cimento juntou-se à diarréia, formando uma crosta dura,
marrom e fedida. Peguei sabonete e esfreguei-o em meu fiofó, na
esperança de soltar o reboco. Nada. Desesperado, lambuzei meu esfíncter
com óleo de cozinha e esfreguei com uma escova de dentes velha. Mas
meus esforços foram em vão, a crosta ali permanecia, firme feito rocha.
Não encontrei outra solução, senão telefonar para meu primo, que era
médico. Expliquei minha situação, e ele parecia não acreditar em uma
história tão bizarra.
Quando ele chegou e viu meu estado, ele ficou chocado.
Imediatamente fui encaminhado a um hospital para uma bateria de exames.
O resultado dos testes não era nada animador: o cimento misturou-se a
substâncias provenientes do bolinho e causou-me uma reação alérgica
que, se não fosse tratada a tempo, poderia tornar-se uma infecção.
Primeiramente, os médicos deveriam tentar remover a crosta. E ela não
poderia ser retirada a força, já que o ânus é uma região muito sensível
e cheia de vasos sanguíneos. A radiação era minha única esperança. Fui
submetido a várias seções radioterápicas, que infelizmente não surtiram
efeito. Eu estava inconformado, e convencido de que iria morrer, não
havia mais o que ser feito para poupar minha vida.
Mas um médico revolucionário, hoje um grande amigo meu, resolveu
me ajudar. Ele tinha uma solução definitiva, porém radical: a amputação
de minha bunda. Aquilo parecia inconcebível, um sujeito andando por aí,
sem as suas nádegas, mas era ou isso, ou a morte. Optei por fazer a
operação, e hoje estou muito bem, apesar de não poder sentar-me em
lugar algum. Mas confesso, eu sinto muito a falta da minha querida e
molenga bunda. E pensar que a perdi por causa de um bolinho... a vida é
cruel, e o bolinho estragado.
Texto Nonsense - O Bolinho
domingo, 19 de outubro de 2008, by Fabricio von
Assine:
Postar comentários (Atom)

Clique aqui e comente!
3 mongolices:
já aconteceu comigo, mas foi num banheiro
.. e eu tive q usar o papel já usado..
Papel Já usado ?! Que delícia.
imaginou o perfume que isa lava. credo